A
cena da mulher morrendo bem na nossa frente, todo aquele sangue, me
fez lembrar de Almir, apesar de os motivos de suas mortes serem
completamente diferentes.
_
Alexandre, Alexandre! Chamamos sem resposta. Parecia realmente em
choque, com os olhos caídos e fixos em um ponto. Mantivemos
distância e observamos.
Ele
pôs o corpo da mulher sentado com as pernas esticadas e as coisas
apoiadas na parede, sentou-se ao lado e começou a falar com o
cadáver. Diogo fez menção em se aproximar, mas foi impedido por
Natasha.
Olhei
para trás e vi Aline na sacada onde estávamos antes, ainda com o
bebê no colo, ele sorria. Pobre criança.
Me
despedi de Natasha e Diogo, que disseram que ficariam por ali mesmo.
Voltando
para dentro, Aline também estava bem abalada. Tentei não falar
sobre o que acabara de acontecer.
_
Daqui a algumas horas estará de manhã, porque não aproveitamos
para descansar um pouco?
_
Sim, precisamos estar inteiros amanhã para sairmos daqui. Respondeu
Aline.
Encontramos
um canto e dormimos no chão. O cansaço fez com que apagássemos em
poucos minutos.
Passaram-se
algumas horas e então despertei com um susto. Aline já estava de pé
e tinha ótimas notícias.
_
Bom dia, amor! Já ia mesmo te acordar! O Diogo falou que acha que
tem uma maneira de sairmos daqui. Ele está lá fora, no telhado.
Levantei
correndo e fui procurá-lo.
_
Bom dia, Diogo! Descansou?
_
Bom dia, dorminhoco! Tava roncando pra caralho, hein, maluco! Se
liga, enquanto vocês dormiam eu trabelhei nisso aqui. E apontou para
um cabo de aço que cruzava todo o pátio.
_
Ta vendo isso aí? É um cabo de aço que segurava os fios de alta
tensão, mas foram arrancados pelo caminhão que bateu e derrubou
dois postes. Ele está preso aqui em cima e vai direto até lá, ó,
até o primeiro caminhão onde a mulher estava. De lá é só descer
e pegarmos os carros. O que me diz?
_
Gênio! Tu é foda, cara.
_
Só tem um problema... o Alexandre encontrou um armário cheio de
caixas de vodka e o resultado é aquele alí. Disse ele coçando a
cabeça e apontando para Alexandre, que estava dormindo ao lado do
cadáver da mulher, no mesmo lugar de ontem.
Nós
o acordamos e por sorte ele estava bem, apenas com uma puta ressaca.
Mas conseguiu atravessar a “tirolesa” improvisada. Primeiro foi o
Diogo, seguido por Alexandre, depois Natasha. Aline pediu minha
camisa e amarrou uma manga na outra fazendo uma espécie de sacola,
onde levou o bebê preso ao corpo, por último fui eu. Cada um, assim
que chegava, corria para o seu carro, para não perdermos mais tempo.
Realmente foi uma jogada de mestre, conseguimos sair sem precisar
enfrentar nem um zumbi sequer.
Seguindo
a estrada, avistamos pelo retrovisor uma moto, não muito potente mas
que vinha a toda velocidade. Abrimos passagem para o cara de dreads
no cabelo e ele passou por nós sem olhar para os lados.
A
placa de Minas Gerais indicava que aquele viajante apressado vinha de
longe. Em Irajá, em frente ao Shopping, avistamos novamente o cara
dos dreads, dessa vez já sem a moto e cercado por uma grande horda.
Ele tinha consigo dois facões bem grandes, daqueles de cortar galhos
e mostrava bastante desenvoltura com as armas. Mas o número de
zumbis o deixava em uma desvantagem absurda.
_
AMOR, É O VALQUÍRIO!!! Aline gritou e acelerou, investindo sobre a
horda.
Nós,
nos outros carros, fomos atrás. Nosso grupo estava em três carros e
com isso conseguimos pará-los estrategicamente de forma que,
praticamente, cercássemos o amigo que estava em perigo. Portas
abertas, saí no pequeno cerco que montamos, para uma reorganização
rápida do grupo. Agora estávamos em seis pessoas.
_Val,
tu pode pegar o carro com a Natasha, pra Aline vir no carro comigo?
_
Claro, pô. Mas eu não posso me separar da Tekilla. Ela pode ir
comigo?
Valquírio
falou enquanto tirava da mochila uma gatinha cinza e preta, uma
mistura de Siamês com vira-lata, que Natasha na mesma hora pegou no
colo.
_
Acho que isso é um sim. Respondi irônico.
_
Claro que pode, ainda mais com uma filhote linda dessas. Você é o
cara da moto?
_
Sim, sou eu. Ela está caída ali, não consigo pegá-la.
Natasha
saiu do carro para Valquírio entrar, já que a porta do outro lado
estava bloqueada pelos zumbis.
_
Entra aí! Deixa que eu piloto agora, você veio de longe. Aproveita
pra descansar um pouco.
_
Pô... Valeu, Natasha. E esse bebê no colo da Aline, de quem é?
Perguntou meio confuso.
_
Isso é uma longa história, cara. Prazer, sou o Diogo. Esse aqui ao
lado é o … PORRA, O ALEXANDRE SUMIU!!!
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