Ep. 7: Amigos, um segundo muda tudo.

Assim que fechamos e travamos a porta, subimos a escada estreita e de degraus irregulares. Lá em cima, Alexandre e Diogo tinham todo um aparato já organizado. Natasha abraçou Alexandre, bastante emocionada.
_ Que bom ver amigos vivos! Pelo visto não chegaram aqui agora, né? Estão aqui há muito tempo?
_ Mais ou menos chegamos por aqui à tarde. Alexandre respondeu e, enquanto ele falava, percebi seu punho enfaixado, mas não comentei de imediato.
Enquanto Natasha e Alexandre conversavam um pouco mais afastados, Diogo começou a nos explicar que o hospital onde ele trabalha começou a receber muitos pacientes vítimas de ataques de mordidas, mas não de animais e sim de outras pessoas. Os que já não chegavam mortos, morriam em pouco tempo. E esses, mesmo após terem morrido, levantavam-se e atacavam outras pessoas. Ele então resolveu voltar para casa.
_ Porra, cara! Só eu tinha ido trabalhar ontem, tive que ir cobrir um amigo que adoeceu. Minha família estava toda lá em casa, começando a preparar as coisas para a festa surpresa de um primo hoje à noite. Só quero chegar em casa e ver que estão todos bem.
_ E o Alexandre? Como encontrou? Perguntei, já prevendo a hora de perguntar sobre o ferimento no braço.
_ Assim que eu peguei a saída da Ilha do Governador e voltava dirigindo pela Av. Brasil, fui ultrapassado por um ônibus em alta velocidade, que bateu na mureta da pista e capotou a poucos metros do meu carro. Parei ali próximo e corri para ajudar, quando ouvi chamarem meu nome. Era o Alexandre, dentro do ônibus! Havia pelo menos uns cinco mordedores desses! Quebrei a janela e puxei nosso amigo, que disse que estava sozinho e também indo pra casa, fugindo do caos. Não pensamos duas vezes, voltamos para o carro e chegamos aqui. Paramos para abastecer e procurar algo para imobilizar o braço dele. Acho que está quebrado, ele reclama de dor, mas não há ferimento aparente. Aqui fomos cercados e resolvemos ficar até vermos o que faremos para seguir caminho.
Começamos a explicar nossa estratégia para chegar à Vila da Penha, mas fomos interrompidos logo no início.
_SOCORRO, SOCORROOOOO!
Corremos todos até a varanda e lá estava a mulher para quem demos carona. Ela estava em cima de um dos caminhões parados e, apesar de próximo, era impossível alcançá-la. Ela viu o bebê no colo de Aline e agradeceu por termos salvo seu filho e de certa forma se acalmou um pouco.
_Não saia daí que nós vamos te ajudar, nós vamos te resgatar. Gritou Alexandre, já se arrumando para descer.
_ Espera aí, cara! Olha como está aquilo lá embaixo.
_ É Alexandre, ficou louco?
_ Mas, gente, não podemos deixá-la abandonada à própria sorte.
_ E quem foi que disse isso? Ninguém tá abandonando ela...
O falatório irritou o bebê que voltou a chorar, chorou tanto que perdeu o fôlego, ficando vermelho arroxeado e sem conseguir puxar o ar novamente. Dali da varanda assistíamos a cena de terror que se anunciava. A mulher se desesperou com a criança, que passava mal e resolveu arriscar passar para o caminhão ao lado e ir pulando de um em um até chegar mais perto. Aline correu com o bebê para o lado de dentro, afastando-o do barulho, para que se acalmasse e assim recuperasse o fôlego.
_ Eu vou até aí! Preciso do meu filho, ele precisa de mim, somos uma família, uma família abençoada!
Ela fechou os olhos, ergueu a mão esquerda aos céus, levando a direita ao peito, recitando algo que a distância não nos permitia interpretar, como quem estivesse em oração. Ficou assim por um tempo e assim que abriu os olhos pulou para o primeiro caminhão ao seu lado, que era mais baixo, o seu tênis enganchou em algo e ela caiu rasgando a panturrilha, que de imediato se abriu deixando parte de sua carne pendurada. Com muita dificuldade ela atravessou sobre outros três veículos, deixando um rastro de sangue. O quarto um caminhão cegonha, havia batido e entrado em um pequeno prédio comercial, ela precisaria escalá-lo e se arrastar por entre as ferragens retorcidas para só então atravessar uma marquise e nós a alcançarmos.
Perdemos a mulher de vista por alguns minutos que pareceram uma eternidade, até que a avistamos saindo do outro lado, agora mais próxima de nós, ainda mais machucada.
Ela agora estava sem blusa, talvez tenha ficado presa em alguma coisa, seu cabelo estava colado ao rosto, lavado em sangue, ela parecia ter deslocado um ombro, pois já não mais movimentava um dos braços.
_ Meu filho, mamãe está chegando. Fique calmo, mamãe está chegando.
Ela sussurrava como quem guardava suas últimas forças para aquele reencontro.
Faltava muito pouco, agora ela precisava apenas caminhar por uma pequena marquise, sobre algumas lojas e então entregaríamos seu bebê.
As forças da mulher se extinguiam a cada passo. Alexandre passou para o lado de fora e se segurou firme na grade, transpondo um pequeno vão entre os dois prédios.
A mulher já não se aguentava mais de pé, apoiava todo o seu peso em apenas uma das pernas, já que a que a outra se esvaía em sangue, dilacerada. A clavícula, notoriamente deslocada, tornava seu caminhar ainda mais cambaleante e dolorido, o que a fazia gemer de dor.
Ela vinha praticamente se arrastando deixando um rastro rubro de dor e sofrimento, mas parecia não se importar, ela pensava apenas em seu pequeno.
Alexandre a alcançou e a abraçou.
_Vem comigo. Parabéns, você é uma vencedora. Uma leoa que não mediu esforços para proteger a sua cria. Vamos, vamos pegá-lo.
Ela então sorriu, agradeceu e desmaiou, caindo por cima de Alexandre, que foi pego de surpresa e não aguentou o peso da mulher. Na mesma hora ele se virou para trás pedindo ajuda.
Enquanto corríamos todos para ajudar, ouvimos um tiro, enquanto uma voz ao longe gritava:
_ MORRE, SUA FILHA DA PUTAAAAAA. QUERO VER TU MORDER O CARA AGORA. ME DEVE ESSA, MALUCO!!! HAHAHAHAHAHAHA.
Isso seguido do som de um carro cantando pneu e se afastando.

_ NÃÃÃÃÃÃÃÃÃO! Gritou Alexandre. E ao voltarmos os olhos novamente para os dois no chão, ele estava com o corpo todo ensanguentado. A mulher estava morta. A forma como ela andava, devido aos ferimentos, confundiu o atirador, que de longe achou que ela fosse ser um zumbi atacando Alexandre. O disparo foi certeiro na cabeça, que explodiu, restando apenas pedaços de crânio e massa encefálica para todos os lados.

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