Eram
tantos zumbis ao redor, se espremendo contra os vidros e a lataria da
pick-up, que já estava difícil de enxergar o lado de fora, alguns
escorregavam e caiam embaixo do carro e a lama fazia o carro não
sair do lugar. Tentei manter a calma. Acionei o comando de tração e
comecei a acelerar devagar. O som dos ossos e crânios se rompendo
era abafado pelo som do motor e pelos vidros fechados. Saindo do
terreno em obra, avistei o carro das meninas voltando, pisquei o
farol e abri o vidro acenando com a mão, para indicar que estava
tudo bem. Era Aline que estava ao volante.
_
Porra, quer me matar do coração? Pensei que não tinha conseguido
sair.
_Consegui
sim, vocês estão bem, né? Vamos parar no posto ali na esquina da
Intendente Magalhães e vamos ver se conseguimos algo na loja de
conveniência, tudo bem?
_Tudo
bem! Vamos lá!
Chegando
ao posto de gasolina, já estava escuro. Saltamos dos carros
apreensivos, tensos, com nossas armas nas mãos e esperando o pior,
mas estava tudo deserto exceto pelo cão que dormia próximo à placa
que anunciava a venda de gelo, carvão e água mineral, como quem
realmente não entendia o que estava acontecendo.
Andamos
até a porta da loja de conveniência e estava trancada, mas a porta
de vidro temperado não seria empecilho. Tudo aquilo estava à apenas
uma marreta de distancia. Enquanto as meninas pegavam comidas e
bebidas no interior da loja (isso inclui biscoitos, chocolates,
montanhas de refrigerantes e cervejas), eu fui até o depósito onde
ficavam os galões de vinte litros de água, peguei alguns cheios e
coloquei na caçamba, peguei também alguns vazios e enchi com
combustível. Era melhor garantir. Completamos os tanques dos carros
e seguimos em frente para pegarmos a Av. Brasil. Em algumas partes do
caminho a estrada estava quase fechada. Por todos os bairros que
cortamos o clima era de terror, carros abandonados, outros em chamas,
pessoas sendo atacadas, corpos pelo chão e muitos, muitos zumbis.
Na
Brasil a mesma cena se repetia. Carros abandonados, dispostos como em
um congestionamento e muitos zumbis, mas algo nos chamou a atenção.
Havia um caminho centralizado na pista como se algum veículo largo,
grande e pesado tivesse aberto passagem entre os carros, fazendo
muitos deles se amontoarem sobre os outros. Aproveitamos para seguir
o mesmo trajeto, guiados apenas pela luz de nossos faróis.
No
meio da estrada, em meio à escuridão, surge uma mulher com um bebê
no colo e praticamente se joga na frente do carro das meninas que ia
na frente, nos obrigando a parar. Emparelhei meu carro ao delas,
ligamos o farol alto e ficamos um tempo observando o que a mulher
faria. Ela se ajoelhou no chão e clamou por ajuda.
_
POR FAVOR, NOS AJUDE! PELO AMOR DE DEUS! MEU MARIDO ACABOU DE SER
ATACADO POR UMA DESSAS PESSOAS.
Abri
o vidro para que ela pudesse me ouvir.
_
QUANTOS SÃO VOCÊS?
_
SOU SÓ EU E O BEBÊ MESMO! NÃO TEMOS MAIS NINGUÉM.
Olhei
para as meninas e elas pareciam querer ajudar, mas também estavam
cautelosas, acenei com a cabeça em sinal de positivo e elas
retribuíram.
_
OK! DÊ A VOLTA E PULE AI ATRÁS DO CARRO. TE AJUDAREMOS A SAIR DA
BRASIL, E DEPOIS PARAREMOS PARA CONVERSAR MELHOR. ESTAMOS INDO PARA
UM LUGAR SEGURO.
Ela
passou entre os dois carros, tentando nos enxergar por trás dos
vidros escuros e, com um pouco de dificuldade, subiu dando duas
batidas no teto, indicando que já podíamos seguir. Mesmo querendo
ajudar, era preciso ter cautela, não sabíamos se ela havia sido
mordida.
E
pelo caminho mais e mais zumbis. As pontes para travessia de
pedestres que cruzam a avenida também estavam cheias deles. Eram
tantos que chegavam a cair na pista, nos obrigando a desviar quando
possível.
O
caminho parecia livre novamente. Me estiquei e abri o porta luvas, lá
dentro encontrei um par de baquetas, óculos escuros, alguns pacotes
de camisinha e um case de CD´s. Só coisa boa! Botei o CD Reign in
Blood para tocar e pisquei o farol para Aline reduzir a velocidade.
Emparelhei mais uma vez com ela e passei o estojo de cds. Música boa
parecia ser uma boa opção no momento.
_
Toma, tem coisas boas aí. Por falar em coisas boas, tem cerveja aí
com vocês?
_
Estão nos porta-malas, no nosso e no seu. Vamos tentar encostar lá
onde estão aquelas luzes. Acho que é um posto. Aqui com a gente só
tem isso, ó...
Elas
riram e Natasha levantou um pacote de Doritos e uma garrafa de
refrigerante.
Seguimos
até o posto, paramos e quando saí do carro para pegar as malditas
cervejas a mulher havia sumido, ficando apenas o bebê que chorava
muito.
O
som do choro começou a atrair zumbis que saiam de todos os cantos do
posto de gasolina, de cada canto que olhávamos, de cada porta. O
clima ficou tenso, estávamos bem no meio e os zumbis se aproximavam
cada vez mais.
_
O que faremos com essa criança? Perguntou Natasha
_
Vamos levá-la com a gente. Disse Aline
_
Não, cara, esse moleque vai nos atrapalhar, deixe ele aí e vamos
embora! Retruquei.
Nesse
momento vemos Diogo e Alexandre, velhos amigos que também estavam
perdidos por ali. Eles saíram de trás da loja e entraram em uma
porta que ia para o andar de cima de uma espécie de restaurante,
desses de estrada.
Nos
apressamos e seguimos o mesmo caminho.
_
EI, EI, PESSOAL! PRA ONDE VÃO? O QUE ESTÃO FAZENDO AQUI?
_
VEM, PORRA, SOBE LOGO!
Entramos
e fechamos a porta, colocando uma pilha de botijões de gás deitados
travando a porta no primeiro degrau da escada.
Estávamos
mais uma vez cercados, sem armas, sem comida e com esse maldito bebê
que não calava a boca.
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