Ep. 6: Av. Brasil: O caminho sombrio.

Eram tantos zumbis ao redor, se espremendo contra os vidros e a lataria da pick-up, que já estava difícil de enxergar o lado de fora, alguns escorregavam e caiam embaixo do carro e a lama fazia o carro não sair do lugar. Tentei manter a calma. Acionei o comando de tração e comecei a acelerar devagar. O som dos ossos e crânios se rompendo era abafado pelo som do motor e pelos vidros fechados. Saindo do terreno em obra, avistei o carro das meninas voltando, pisquei o farol e abri o vidro acenando com a mão, para indicar que estava tudo bem. Era Aline que estava ao volante.
_ Porra, quer me matar do coração? Pensei que não tinha conseguido sair.
_Consegui sim, vocês estão bem, né? Vamos parar no posto ali na esquina da Intendente Magalhães e vamos ver se conseguimos algo na loja de conveniência, tudo bem?
_Tudo bem! Vamos lá!
Chegando ao posto de gasolina, já estava escuro. Saltamos dos carros apreensivos, tensos, com nossas armas nas mãos e esperando o pior, mas estava tudo deserto exceto pelo cão que dormia próximo à placa que anunciava a venda de gelo, carvão e água mineral, como quem realmente não entendia o que estava acontecendo.
Andamos até a porta da loja de conveniência e estava trancada, mas a porta de vidro temperado não seria empecilho. Tudo aquilo estava à apenas uma marreta de distancia. Enquanto as meninas pegavam comidas e bebidas no interior da loja (isso inclui biscoitos, chocolates, montanhas de refrigerantes e cervejas), eu fui até o depósito onde ficavam os galões de vinte litros de água, peguei alguns cheios e coloquei na caçamba, peguei também alguns vazios e enchi com combustível. Era melhor garantir. Completamos os tanques dos carros e seguimos em frente para pegarmos a Av. Brasil. Em algumas partes do caminho a estrada estava quase fechada. Por todos os bairros que cortamos o clima era de terror, carros abandonados, outros em chamas, pessoas sendo atacadas, corpos pelo chão e muitos, muitos zumbis.
Na Brasil a mesma cena se repetia. Carros abandonados, dispostos como em um congestionamento e muitos zumbis, mas algo nos chamou a atenção. Havia um caminho centralizado na pista como se algum veículo largo, grande e pesado tivesse aberto passagem entre os carros, fazendo muitos deles se amontoarem sobre os outros. Aproveitamos para seguir o mesmo trajeto, guiados apenas pela luz de nossos faróis.
No meio da estrada, em meio à escuridão, surge uma mulher com um bebê no colo e praticamente se joga na frente do carro das meninas que ia na frente, nos obrigando a parar. Emparelhei meu carro ao delas, ligamos o farol alto e ficamos um tempo observando o que a mulher faria. Ela se ajoelhou no chão e clamou por ajuda.
_ POR FAVOR, NOS AJUDE! PELO AMOR DE DEUS! MEU MARIDO ACABOU DE SER ATACADO POR UMA DESSAS PESSOAS.
Abri o vidro para que ela pudesse me ouvir.
_ QUANTOS SÃO VOCÊS?
_ SOU SÓ EU E O BEBÊ MESMO! NÃO TEMOS MAIS NINGUÉM.
Olhei para as meninas e elas pareciam querer ajudar, mas também estavam cautelosas, acenei com a cabeça em sinal de positivo e elas retribuíram.
_ OK! DÊ A VOLTA E PULE AI ATRÁS DO CARRO. TE AJUDAREMOS A SAIR DA BRASIL, E DEPOIS PARAREMOS PARA CONVERSAR MELHOR. ESTAMOS INDO PARA UM LUGAR SEGURO.
Ela passou entre os dois carros, tentando nos enxergar por trás dos vidros escuros e, com um pouco de dificuldade, subiu dando duas batidas no teto, indicando que já podíamos seguir. Mesmo querendo ajudar, era preciso ter cautela, não sabíamos se ela havia sido mordida.
E pelo caminho mais e mais zumbis. As pontes para travessia de pedestres que cruzam a avenida também estavam cheias deles. Eram tantos que chegavam a cair na pista, nos obrigando a desviar quando possível.
O caminho parecia livre novamente. Me estiquei e abri o porta luvas, lá dentro encontrei um par de baquetas, óculos escuros, alguns pacotes de camisinha e um case de CD´s. Só coisa boa! Botei o CD Reign in Blood para tocar e pisquei o farol para Aline reduzir a velocidade. Emparelhei mais uma vez com ela e passei o estojo de cds. Música boa parecia ser uma boa opção no momento.
_ Toma, tem coisas boas aí. Por falar em coisas boas, tem cerveja aí com vocês?
_ Estão nos porta-malas, no nosso e no seu. Vamos tentar encostar lá onde estão aquelas luzes. Acho que é um posto. Aqui com a gente só tem isso, ó...
Elas riram e Natasha levantou um pacote de Doritos e uma garrafa de refrigerante.
Seguimos até o posto, paramos e quando saí do carro para pegar as malditas cervejas a mulher havia sumido, ficando apenas o bebê que chorava muito.
O som do choro começou a atrair zumbis que saiam de todos os cantos do posto de gasolina, de cada canto que olhávamos, de cada porta. O clima ficou tenso, estávamos bem no meio e os zumbis se aproximavam cada vez mais.
_ O que faremos com essa criança? Perguntou Natasha
_ Vamos levá-la com a gente. Disse Aline
_ Não, cara, esse moleque vai nos atrapalhar, deixe ele aí e vamos embora! Retruquei.
Nesse momento vemos Diogo e Alexandre, velhos amigos que também estavam perdidos por ali. Eles saíram de trás da loja e entraram em uma porta que ia para o andar de cima de uma espécie de restaurante, desses de estrada.
Nos apressamos e seguimos o mesmo caminho.
_ EI, EI, PESSOAL! PRA ONDE VÃO? O QUE ESTÃO FAZENDO AQUI?
_ VEM, PORRA, SOBE LOGO!
Entramos e fechamos a porta, colocando uma pilha de botijões de gás deitados travando a porta no primeiro degrau da escada.

Estávamos mais uma vez cercados, sem armas, sem comida e com esse maldito bebê que não calava a boca.

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