Hoje
eu acordei, me arrumei e saí para o trabalho, como faço todos os
dias. Fui ao ponto de ônibus, embarquei e, como é comum, peguei um
grande congestionamento. O calor piora tudo. A condução se torna um
grande forno, um invólucro de metal sob um sol de quarenta graus.
Comprei
uma garrafa de água, pela janela, em um dos ambulantes e aproveitei
para olhar para a frente tentando ver qual seria o motivo do
congestionamento. Era um acidente. Um carro havia batido em um poste.
A pancada foi tão forte que o poste estava tombado e um corpo estava
debruçado na janela do motorista, havia muito sangue, mas a
distância não me deixava distinguir muita coisa.
Viaturas
da polícia, do corpo de bombeiros e muitos curiosos obstruíam a
passagem dos outros carros. Conforme o ônibus em que estava foi se
aproximando do acidente, percebi que toda a lateral do carro batido
estava perfurada de tiros e o acidentado também parecia ter sido
alvejado, mas, ainda assim, se mexia e tentava sair pela janela, mas
estava preso pelo cinto de segurança. O burburinho foi geral, todos
comentavam o absurdo que era os policias e os bombeiros não ajudarem
o homem que tentava sair do carro. O banco do carona estava vazio e
tinha duas crianças no banco de trás, todos aparentemente mortos.
Meu ônibus parou novamente, dessa vez quase de frente para toda essa
cena. Ouvi dois policiais conversando:
PM
1: - Cara, ele já tinha morrido na hora em que eu cheguei. Aí os
bombeiros conferiram os batimentos cardíacos de todos os corpos
dentro do carro e nada! Foi todo mundo pro saco. Então, o pessoal,
pediu ajuda pra remover os corpos das ferragens e, do nada, quando o
Campos tentava livrar a perna do motorista presa no painel do carro,
cara, o desgraçado mordeu o Campos, cara... Na hora nós já largamo
o dedo nesse filho da puta e ele não morreu! Não fode! Eu
também fui mordido na mão, olha aqui. Isso é coisa do tinhoso, só
pode! Bem que o meu pastor falou que o fim estava próximo. E, porra,
ainda te digo mais, não foi uma mordidinha não. O filho da puta
arrancou o pedaço do ombro do Campos e comeu. Ele mastigou e
engoliu.”
PM
2: _ Que porra é essa, cara? Tu tá maluco? Como o defunto vai
morder os outros? Claro que ele não tinha morrido, porra! Tu está
todo ensangüentado, ele te mordeu feio, então, né? Hahahahaha! Já
viu essa porra? Não é melhor ir no médico? Tu tá pálido, com a
boca branca, porra. Dá pra ver que tu tá todo fodido, todo zoado.
Pede para um bombeiro limpar isso, fazer um curativo e vai embora pra
casa não tem sentido algum você ficar aqui.
Uma
mulher dentro do ônibus começou a falar interrompendo o assunto dos
PMs.
A
mulher disse que o carro estava ali desde a noite anterior e ela
parou com o filho e a nora enfermeira, para ajudar o motorista, que
aparentava ter por volta dos trinta anos, a esposa e os dois filhos.
O homem estava quase desacordado e não conseguia falar. Apenas
alguns grunhidos pareciam a tentativa de pedir ajuda, enquanto
apontava a mulher do banco do carona. Deram a volta no carro para
tentar ajudá-la, mas ela já estava morta. Parecia que estava morta
há vários dias. Sua nora conseguiu tirar o corpo da mulher do carro
e enquanto fazia isso, também havia sido mordida. A nora passou
muito mal durante a noite e foi levada às pressas ao Hospital
Getúlio Vargas, na Penha. Hoje pela manhã, começou a vomitar um
líquido viscoso e escuro. Ela não resistiu e morreu. Os médicos
disseram que nunca viram nada parecido.
-
As crianças estão se mexendo! - gritou um bombeiro.
- Apesar dos
ferimentos por todo o corpo os meninos ainda estão vivos!
O
grito ecoou fazendo com que todos ao redor começassem a gritar,
clamando para que eles fossem ajudados. Na mesma hora a multidão de
curiosos começou a se mobilizar e começaram a tentar cortar a
lataria do carro.
O
ônibus voltou a andar, alguns guardas municipais liberaram o
trânsito à frente. Já estávamos longe do local do acidente,
quando mais gritos fizeram o motorista parar no meio da rua. Uma
adolescente atacou a mordidas o senhor sentado ao seu lado. Várias
pessoas tentaram ajudar o homem e também foram mordidas, tiveram
pedaços de seus corpos arrancados ou sofreram arranhões profundos.
Com
muito esforço conseguiram amarrar a jovem pelo braço, com algumas
alças de bolsas e mochilas. Ela rosnava, grunhia, e babava. Seus
olhos não pareciam olhos humanos, sua pele era pálida como a de um
cadáver e ela parecia não sentir dor alguma. Uma mulher pegou a
bíblia em sua bolsa e começou a fazer orações, como se tentasse
exorcizar a menina. Enquanto isso, a adolescente girava o braço que
estava preso, fazendo arrebentar a articulação do ombro. Ela
continuou a torcer até que o sangue começasse a banhar seu corpo,
enquanto sua carne era dilacerada pelas torções.
Por
fim o braço se soltou do corpo, ficando amarrado ao banco, enquanto
a menina sem demonstrar nenhuma dor foi de encontro à mulher que
rezava, mordendo sua jugular e fazendo com que as artérias
espirrassem o sangue, banhando o ônibus e a todos em seu interior.
Show!
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