Ep.1: Infestação, o primeiro contato.

Hoje eu acordei, me arrumei e saí para o trabalho, como faço todos os dias. Fui ao ponto de ônibus, embarquei e, como é comum, peguei um grande congestionamento. O calor piora tudo. A condução se torna um grande forno, um invólucro de metal sob um sol de quarenta graus.
Comprei uma garrafa de água, pela janela, em um dos ambulantes e aproveitei para olhar para a frente tentando ver qual seria o motivo do congestionamento. Era um acidente. Um carro havia batido em um poste. A pancada foi tão forte que o poste estava tombado e um corpo estava debruçado na janela do motorista, havia muito sangue, mas a distância não me deixava distinguir muita coisa.
Viaturas da polícia, do corpo de bombeiros e muitos curiosos obstruíam a passagem dos outros carros. Conforme o ônibus em que estava foi se aproximando do acidente, percebi que toda a lateral do carro batido estava perfurada de tiros e o acidentado também parecia ter sido alvejado, mas, ainda assim, se mexia e tentava sair pela janela, mas estava preso pelo cinto de segurança. O burburinho foi geral, todos comentavam o absurdo que era os policias e os bombeiros não ajudarem o homem que tentava sair do carro. O banco do carona estava vazio e tinha duas crianças no banco de trás, todos aparentemente mortos. Meu ônibus parou novamente, dessa vez quase de frente para toda essa cena. Ouvi dois policiais conversando:
PM 1: - Cara, ele já tinha morrido na hora em que eu cheguei. Aí os bombeiros conferiram os batimentos cardíacos de todos os corpos dentro do carro e nada! Foi todo mundo pro saco. Então, o pessoal, pediu ajuda pra remover os corpos das ferragens e, do nada, quando o Campos tentava livrar a perna do motorista presa no painel do carro, cara, o desgraçado mordeu o Campos, cara... Na hora nós já largamo o dedo nesse filho da puta e ele não morreu! Não fode! Eu também fui mordido na mão, olha aqui. Isso é coisa do tinhoso, só pode! Bem que o meu pastor falou que o fim estava próximo. E, porra, ainda te digo mais, não foi uma mordidinha não. O filho da puta arrancou o pedaço do ombro do Campos e comeu. Ele mastigou e engoliu.”
PM 2: _ Que porra é essa, cara? Tu tá maluco? Como o defunto vai morder os outros? Claro que ele não tinha morrido, porra! Tu está todo ensangüentado, ele te mordeu feio, então, né? Hahahahaha! Já viu essa porra? Não é melhor ir no médico? Tu tá pálido, com a boca branca, porra. Dá pra ver que tu tá todo fodido, todo zoado. Pede para um bombeiro limpar isso, fazer um curativo e vai embora pra casa não tem sentido algum você ficar aqui.
Uma mulher dentro do ônibus começou a falar interrompendo o assunto dos PMs.
A mulher disse que o carro estava ali desde a noite anterior e ela parou com o filho e a nora enfermeira, para ajudar o motorista, que aparentava ter por volta dos trinta anos, a esposa e os dois filhos. O homem estava quase desacordado e não conseguia falar. Apenas alguns grunhidos pareciam a tentativa de pedir ajuda, enquanto apontava a mulher do banco do carona. Deram a volta no carro para tentar ajudá-la, mas ela já estava morta. Parecia que estava morta há vários dias. Sua nora conseguiu tirar o corpo da mulher do carro e enquanto fazia isso, também havia sido mordida. A nora passou muito mal durante a noite e foi levada às pressas ao Hospital Getúlio Vargas, na Penha. Hoje pela manhã, começou a vomitar um líquido viscoso e escuro. Ela não resistiu e morreu. Os médicos disseram que nunca viram nada parecido.
- As crianças estão se mexendo! - gritou um bombeiro.
- Apesar dos ferimentos por todo o corpo os meninos ainda estão vivos!
O grito ecoou fazendo com que todos ao redor começassem a gritar, clamando para que eles fossem ajudados. Na mesma hora a multidão de curiosos começou a se mobilizar e começaram a tentar cortar a lataria do carro.
O ônibus voltou a andar, alguns guardas municipais liberaram o trânsito à frente. Já estávamos longe do local do acidente, quando mais gritos fizeram o motorista parar no meio da rua. Uma adolescente atacou a mordidas o senhor sentado ao seu lado. Várias pessoas tentaram ajudar o homem e também foram mordidas, tiveram pedaços de seus corpos arrancados ou sofreram arranhões profundos.
Com muito esforço conseguiram amarrar a jovem pelo braço, com algumas alças de bolsas e mochilas. Ela rosnava, grunhia, e babava. Seus olhos não pareciam olhos humanos, sua pele era pálida como a de um cadáver e ela parecia não sentir dor alguma. Uma mulher pegou a bíblia em sua bolsa e começou a fazer orações, como se tentasse exorcizar a menina. Enquanto isso, a adolescente girava o braço que estava preso, fazendo arrebentar a articulação do ombro. Ela continuou a torcer até que o sangue começasse a banhar seu corpo, enquanto sua carne era dilacerada pelas torções.

Por fim o braço se soltou do corpo, ficando amarrado ao banco, enquanto a menina sem demonstrar nenhuma dor foi de encontro à mulher que rezava, mordendo sua jugular e fazendo com que as artérias espirrassem o sangue, banhando o ônibus e a todos em seu interior.

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