Ep.2: Atraídos pelo som. Corre, porra!!!

Depois de ter atacado a mulher que rezava, dentro do ônibus, a adolescente, que usava uniforme do Colégio Carmela Dutra, continuou a investir, com um andar cambaleante, na direção dos outros passageiros. Mesmo tendo arrancado seu próprio braço de forma que sua carne dilacerada ficasse toda a mostra, inexplicavelmente o sangue já não escorria mais, como se tivesse coagulado em poucos minutos.
Até agora eu já podia contar cinco vítimas, entre pessoas que haviam sido mordidas, outras com arranhões profundos e por último o corpo da mulher, com a bíblia ainda na mão, caído sobre um banco, com o abdômen completamente aberto, onde a jovem enfiava o rosto e com auxílio das mãos, comia seu intestino e outros órgãos. Eu quase não conseguia acreditar no que estava presenciando, uma menina atacando e comendo pessoas bem na minha frente. A infestação zumbi era real e estava acontecendo bem diante dos meus olhos. Essa vítima caída, que lhe servia de banquete, fez com que outros passageiros, inclusive eu, conseguíssemos ganhar tempo, saindo do alcance daquela besta em forma de adolescente. Puxamos as alavancas das saídas de emergência e pulamos pelas janelas.
O motorista do ônibus também abriu a porta da frente e saiu em meio aos carros, no trânsito da Rua Ministros Edgard Romero. Agora, já estávamos próximos ao Mercadão de Madureira. Corremos para a calçada, os carros passavam por nós, em alta velocidade, como se fossem pilotados por loucos, o que fazia com que o som das batidas de trânsito fosse quase constante.
Em meio à gritaria e pessoas correndo para todos os lados, olhei para frente e reconheci Natasha, uma velha amiga, aparentemente abalada e meio desnorteada.
_ Natasha, vamos embora, vamos pegar um desses carros e vamos apanhar a Aline na casa dela.
Ela me olhava, mas parecia não compreender o que eu dizia.
_ Vamos Natasha, se mexe, porra! Vamos!!!
_ Alex, é você, não é? Porra, não to enxergando nada. Vamos pra onde, cara? Do que você está falando? Tem gente comendo gente, porra! Tem esses monstros nas ruas e pra onde nós vamos? Cadê os meus óculos?
Ela falava, questionava, emendava uma pergunta na outra, sem me dar tempo de responder.
_ Natasha, presta atenção, olha pra mim, olha pra mim! Sabe a Aline, minha namorada? Então, ela está na casa dela e não dá para eu chegar lá. Como as pessoas estão abandonando os seus carros no meio da rua, eu vou pegar um carro para irmos à casa da Aline, buscar ela. Liga pra ela e diz pra ela fazer uma mala com roupas que vamos passar lá e que é pra ela NÃO SAIR DE CASA PARA NADA, frise bem essa parte. Consegue fazer isso?
_ Consigo. Ela respondeu já com o celular na mão.
Andei alguns metros e encontrei um Corsa Sedan, com a chave na ignição. Já era o suficiente, manobrei e voltei ao ponto onde tinha deixado Natasha, ela não estava mais lá. Buzinei algumas vezes, até que saí do carro e gritei seu nome, enquanto abria o porta malas. Mas ele estava vazio, nada que eu pudesse usar para me defender desses zumbis.
Parecia que o barulho atraia ainda mais as criaturas, que agora já estavam em maior número e vinham em minha direção. Natasha apareceu, vinha correndo de dentro do Mercadão.
_ Corre, porra! O som da buzina atraiu ainda mais desses bichos. Gritei, fazendo-a se apressar.
Entramos no carro e seguimos em silêncio, o bairro de Madureira e provavelmente toda a cidade já estavam completamente abandonados, lojas fechadas, muitos carros, motos e ônibus abandonados nas pistas, alguns inteiros e outros batidos. Por todos os lados havia Zumbis comendo corpos, às vezes mais de um compartilhando um mesmo cadáver. Ligamos o rádio e em todas estações uma mesma mensagem era repetida incessantemente:
Estamos em estado de emergência, não saiam de suas, estoquem água e comida”
Estamos em estado de emergência, não saiam de suas, estoquem água e comida”
Finalmente chegamos à casa da Aline, minha namorada. Larguei o carro e assim que abri o portão, um rastro de sangue subia as escadas, saindo da casa de baixo em direção à sua casa, ouvi um homem, que gritava, no quintal da casa vizinha. Ele atirava em um zumbi, enquanto esse continuava caminhando em sua direção. A porta da frente estava trancada, corri para a porta dos fundos chamando seu nome.
Ouvi sua voz, um pouco abafada, pedindo socorro. Entrei pela cozinha e ao seguir pelo corredor me deparei com James, seu padrasto. Ele também já estava infectado, tentava entrar no quarto, para atacá-la, mas a porta estava fechada. Comecei a perceber que além de vagarosos e cambaleantes, não têm consciência do uso de sua força e nem inteligência para tentar pensar em alternativas para atacar suas vítimas. Ao perceber minha presença ele desistiu da porta e veio em minha direção, peguei uma das cadeiras de ferro da cozinha e bati com toda força da região de seu maxilar, o que fez com que abrisse um buraco na lateral de seu rosto, deixando sua carne pendurada e expondo alguns poucos dentes que sobraram no maxilar, agora torto. Estávamos no corredor e ele continuou vindo em minha direção. Ouvi pratos caindo na cozinha e o som do canário que cantava alucinadamente até ser calado de forma abrupta. Olhei para trás e vinha a Aidê, faxineira da casa, com o canário ensanguentado na mão e o rosto coberto de sangue e penas.
Agora eu estava encurralado no corredor entre a cozinha e a sala com um zumbi de cada lado, não havia saída ou alguma forma de fugir, era preciso pensar rápido.   

Nenhum comentário:

Postar um comentário