Depois
de ter atacado a mulher que rezava, dentro do ônibus, a adolescente,
que usava uniforme do Colégio Carmela Dutra, continuou a investir,
com um andar cambaleante, na direção dos outros passageiros. Mesmo
tendo arrancado seu próprio braço de forma que sua carne dilacerada
ficasse toda a mostra, inexplicavelmente o sangue já não escorria
mais, como se tivesse coagulado em poucos minutos.
Até
agora eu já podia contar cinco vítimas, entre pessoas que haviam
sido mordidas, outras com arranhões profundos e por último o corpo
da mulher, com a bíblia ainda na mão, caído sobre um banco, com o
abdômen completamente aberto, onde a jovem enfiava o rosto e com
auxílio das mãos, comia seu intestino e outros órgãos. Eu quase
não conseguia acreditar no que estava presenciando, uma menina
atacando e comendo pessoas bem na minha frente. A infestação zumbi
era real e estava acontecendo bem diante dos meus olhos. Essa vítima
caída, que lhe servia de banquete, fez com que outros passageiros,
inclusive eu, conseguíssemos ganhar tempo, saindo do alcance daquela
besta em forma de adolescente. Puxamos as alavancas das saídas de
emergência e pulamos pelas janelas.
O
motorista do ônibus também abriu a porta da frente e saiu em meio
aos carros, no trânsito da Rua Ministros Edgard Romero. Agora, já
estávamos próximos ao Mercadão de Madureira. Corremos para a
calçada, os carros passavam por nós, em alta velocidade, como se
fossem pilotados por loucos, o que fazia com que o som das batidas de
trânsito fosse quase constante.
Em
meio à gritaria e pessoas correndo para todos os lados, olhei para
frente e reconheci Natasha, uma velha amiga, aparentemente abalada e
meio desnorteada.
_
Natasha, vamos embora, vamos pegar um desses carros e vamos apanhar a
Aline na casa dela.
Ela
me olhava, mas parecia não compreender o que eu dizia.
_
Vamos Natasha, se mexe, porra! Vamos!!!
_
Alex, é você, não é? Porra, não to enxergando nada. Vamos pra
onde, cara? Do que você está falando? Tem gente comendo gente,
porra! Tem esses monstros nas ruas e pra onde nós vamos? Cadê os
meus óculos?
Ela
falava, questionava, emendava uma pergunta na outra, sem me dar tempo
de responder.
_
Natasha, presta atenção, olha pra mim, olha pra mim! Sabe a Aline,
minha namorada? Então, ela está na casa dela e não dá para eu
chegar lá. Como as pessoas estão abandonando os seus carros no meio
da rua, eu vou pegar um carro para irmos à casa da Aline, buscar
ela. Liga pra ela e diz pra ela fazer uma mala com roupas que vamos
passar lá e que é pra ela NÃO SAIR DE CASA PARA NADA, frise bem
essa parte. Consegue fazer isso?
_
Consigo. Ela respondeu já com o celular na mão.
Andei
alguns metros e encontrei um Corsa Sedan, com a chave na ignição.
Já era o suficiente, manobrei e voltei ao ponto onde tinha deixado
Natasha, ela não estava mais lá. Buzinei algumas vezes, até que
saí do carro e gritei seu nome, enquanto abria o porta malas. Mas
ele estava vazio, nada que eu pudesse usar para me defender desses
zumbis.
Parecia
que o barulho atraia ainda mais as criaturas, que agora já estavam
em maior número e vinham em minha direção. Natasha apareceu, vinha
correndo de dentro do Mercadão.
_
Corre, porra! O som da buzina atraiu ainda mais desses bichos.
Gritei, fazendo-a se apressar.
Entramos
no carro e seguimos em silêncio, o bairro de Madureira e
provavelmente toda a cidade já estavam completamente abandonados,
lojas fechadas, muitos carros, motos e ônibus abandonados nas
pistas, alguns inteiros e outros batidos. Por todos os lados havia
Zumbis comendo corpos, às vezes mais de um compartilhando um mesmo
cadáver. Ligamos o rádio e em todas estações uma mesma mensagem
era repetida incessantemente:
“Estamos
em estado de emergência, não saiam de suas, estoquem água e
comida”
“Estamos
em estado de emergência, não saiam de suas, estoquem água e
comida”
Finalmente
chegamos à casa da Aline, minha namorada. Larguei o carro e assim
que abri o portão, um rastro de sangue subia as escadas, saindo da
casa de baixo em direção à sua casa, ouvi um homem, que gritava,
no quintal da casa vizinha. Ele atirava em um zumbi, enquanto esse
continuava caminhando em sua direção. A porta da frente estava
trancada, corri para a porta dos fundos chamando seu nome.
Ouvi
sua voz, um pouco abafada, pedindo socorro. Entrei pela cozinha e ao
seguir pelo corredor me deparei com James, seu padrasto. Ele também
já estava infectado, tentava entrar no quarto, para atacá-la, mas a
porta estava fechada. Comecei a perceber que além de vagarosos e
cambaleantes, não têm consciência do uso de sua força e nem
inteligência para tentar pensar em alternativas para atacar suas
vítimas. Ao perceber minha presença ele desistiu da porta e veio em
minha direção, peguei uma das cadeiras de ferro da cozinha e bati
com toda força da região de seu maxilar, o que fez com que abrisse
um buraco na lateral de seu rosto, deixando sua carne pendurada e
expondo alguns poucos dentes que sobraram no maxilar, agora torto.
Estávamos no corredor e ele continuou vindo em minha direção. Ouvi
pratos caindo na cozinha e o som do canário que cantava
alucinadamente até ser calado de forma abrupta. Olhei para trás e
vinha a Aidê, faxineira da casa, com o canário ensanguentado na mão
e o rosto coberto de sangue e penas.
Agora
eu estava encurralado no corredor entre a cozinha e a sala com um
zumbi de cada lado, não havia saída ou alguma forma de fugir, era
preciso pensar rápido.
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